quinta-feira, 15 de abril de 2010

Diálogos

- Levante.
- Você é um deles?
- Acha que sou?
- Já não consigo mais distingüir o duvidoso do certo. Então, nada acho.
- Não se preocupe. Levante.
- Aonde vamos?
- O que importa não é aonde e sim porque.
- Então, por que?
- Você faz muitas perguntas e costuma ter poucas respostas. Vê esse buraco?
- Sim, mas não faz sentido. Ele nunca existiu até agora.
- Engana-se, minha cara. Ele sempre esteve aqui. A pergunta é: onde VOCÊ esteve esse tempo todo?
- Eu? Provavelmente aqui esperando por você. Como se chama?
- Nomes são apenas mecanismos introdutórios desnecessários. Não preciso de um, afinal já me apresentei simplesmente com palavras. Nem você vai precisar disso.
- Mas eu tenho um: chamo-me Car...
- Já disse que será desnecessário. O que vê através do buraco?
- Engraçado você perguntar isso. Eu me vejo.
- E como você está?
- Pálida, triste e velha. Estranho, pois não me imaginava assim no futuro.
- Por que não? Não pensou que o tempo e seus infortúnios pudessem te atingir, não é mesmo? Viver aqui no quarto, trancada a maioria do tempo, não vai conter o que te espera, Carolina.
- Tenho medo de pensar que a morte é um personagem materializado e cômico, assim como nos desenhos. E um dia, virá vestida de preto para julgar os pecados da alma condenada. Ei, como você adivinhou meu nome?
- E quem disse que ela não é? Ouvi dizer que ela pode se materializar e que a comicidade é sua maior aliada. Traz simpatia a ela. Se os humanos gostam tanto de rir, então por que disfarçam sua paixão pela Morte?
- Não me respondeu como sabe meu nome se eu nem te falei.
- Você já está na minha lista há algum tempo.
- Pera ai. Quem você disse que era mesmo?
- Eu? Sou apenas um amigo cômico que te mostrou um futuro inexistente. Não tenha medo. Podemos ir?
- Mas e minha mãe? Será que ela vai sofrer muito depois de ter me visto deitada sem vida no chão?
- Ela se acostumará depois de um tempo, afinal será só o seu corpo pálido, triste e jovial que estará ao lado da cama. Vamos! Temos hora marcada e já estamos atrasados para o julgamento.
- Ah, reparei que você não está de preto.

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