terça-feira, 29 de março de 2011

Pintar = fortuna

4:05 da tarde. Sala cheia de pessoas que almejam seguir na corrente brasiliense dos concursos, mas que se encontrava parcialmente vazia devido ao intervalo de 20 minutos dado aos estudantes para fazer o que bem entenderem do lado de fora. Tudo no âmbito da legalidade, claro.

Duas cadeiras à frente, a seguinte conversa (produtiva):

- Olá, tudo bom? Deixa eu te perguntar: onde foi que você fez essas luzes ? Ficou bem natural. Tá lindo.
- Ah, oi. Então, blábláblá...

O papo que se seguiu deve ter sido executado na faixa de uns 5 minutos aproximadamente, mas eu já não prestava atenção. Essa foi a última frase, a que fez meu cérebro reagir à conversa novamente, a que me fez escrever sobre isso, a que me fez ouvir claramente ela dizendo:

- Eu vou te dar o número dele. Ele é ótimo, fica lá no Lago Sul. Da última vez, eu paguei um pouco caro, mas valeu muito a pena. Ficou 500 REAIS só para cortar! - exclamou aquele esteriótipo ambulante perfeito e fútil de garota baywatch com suas luzes naturais.

Notas do autor:

* Essa estória é baseada totalmente em fatos verídicos e no desabafo excremental dessa que vos escreve e paga, no máximo, 25 reais para cortar a juba rebelde.

** Juro isso sob o juramento dos escoteiros que não vão à manicure.

domingo, 27 de março de 2011

Quanto custa?

Qual seria o valor mensurável que um amor não correspondido pode assumir?
Aliás, ele pode sequer ser mensurado?
Não há dúvidas de que em todos os relacionamentos, há sempre o mais e o menos: o mais grudento, o menos atento, o mais romântico, o menos apaixonado, o mais liberal, o menos intenso...
É normal.
O anormal é esperar que esse século seja igual ao das gerações passadas onde passar o resto da vida com uma única pessoa era um processo natural e valorizado.
É realmente lastimável pensar que certos costumes mudaram com tanta agressividade e proporção. Os jovens dos anos 90 ainda ouviam Joy Division, enquanto os de hoje só pensam em Restart. E cada vez piora...
Organizando as idéias hoje mais cedo na companhia de uma grande amiga, cheguei à conclusão que de fato há uma semente plantada há um tempo em mim que me faz sempre voltar à estaca zero. Não é nada consciente, racional.
Coisas do coração não podem ser comandadas pelo cérebro. Essa é a primeira lógica do modus operandi amoroso.
Para os que não gostam desse assunto clichê, como eu mesma, só tenho que me desculpar. Mas precisava exorcizar isso, escrevendo um pouco do tanto de coisa que tenho guardada. É bom compartilhar, ouvir outros pensamentos. Nos faz sentir menos malucos por fixar alguma idéia vulnerável e complexa.

Mantenho a crença de que um texto mal escrito sobre o amor pode tranquilamente ser usado com a mesma finalidade do papel higiênico. Só me resta esperar que esse aqui não renda muitos metros de folha dupla.

Eu não sei pensar em títulos de postagem...

... os meus são sempre muito ruins.

É para sempre

- Mas que diabo de barulho é esse? - suas ceroulas rosnavam. Apesar das janelas fechadas, o silêncio do quarto era quebrado por uma constante singularidade musical. - Eeeei! Estou tentando ter um pouco de paz aqui - gritou rua afora. Deserta. Nenhum som por mais remoto que fosse anunciava o distúrbio que ele procurava - Não é possível! Ninguém pode mais dormir até tarde?

A rua continuava calada e as casas vizinhas aparentemente tranquilas. Definitivamente não estava vindo de fora. Mas como o barulho estaria vindo de dentro, se há algum tempo ele havia conseguido se libertar das amarras da mãe morando sozinho? "Melhor verificar o resto da casa antes que eu fique paranóico", pensou saindo do quarto. O borburinho aumentava gradualmente a medida que ele se aproximava da escada. "Bom, é lá embaixo. E agora?"

Sala: (x) vazia
Escritório caustrofóbico mal reformado: (x) vazio
Banheiro sem fins higiênicos úteis: (x) vazio
Cozinha e último aposento não visitado ainda: ( ) vazia (x) porta fechada

De fato, agora sim era possível perceber que o barulho destruidor da paz caseira advinha da cozinha. A curiosidade para saber o que ou quem produzia tal pertubação quase se igualava com o medo de encontrar um ladrão nos trajes em que tinha acordado. Preferiu agir como um verdadeiro macho destemido, que paga as contas e não precisa mais da mãe para aprovar suas namoradas e abrir a porta com cautela para pegar o tal gatuno em flagrante. A cena que viu desmontou sua pose de herói.

- Mãããããe! O que você está fazendo aqui essa hora??
- Bom dia, meu tutu. A porta estava destrancada, então entrei. Quando você vai aprender que tem que passar a chave nela, tutu?
- Mãe, não me chama assim. Já estou grande. Que barulho é esse?
- Eu vim fazer suco para você tomar agora de manhã. Aliás, já não está tarde demais para você tomar café?
- Maldito liquidificador.

A falta de acetona

Sim, ela faltou e o que sobrou foi o esmalte pela metade na minha unha por quase uma semana. Verde florescente, a cor do verão passado. Parece ser uma tarefa tão simples, pelo menos aqui em Brasília - onde toda quadra tem uma comercial, que por sua vez tem uma farmácia ou uma loja de cosmético -, mas acredite, sair da zona de conforto em um domingo à tarde, quando se descobre que a acetona acabou, para ir procurar pela comercial não é tão fácil assim.

Já posso dizer agora que sei qual é um dos motivos pelos quais várias meninas não gostam de pintar as unhas. E manicure? Preguiça dela também.

Piii

Aline encontrava-se parada diante de sua própria imagem. O formato em retângulo, com pequenos quadrados em mosaico ao redor, parecia-lhe um tanto familiar. Cresceu tentando buscar alguma identidade nesse espelho, no entanto, seu reflexo nunca havia se mostrado tão distorcido como agora. O brilho do sol despontava ao longe e aos poucos ia iluminando as cortinas e por fim todo o quarto. Em uma das paredes, mantinha alguns pôsteres de seus filmes preferidos, na mesinha de canto apenas uma antiga foto quase desbotada da sua infância e, em cima da cama, suas roupas denunciavam a rotinária caminhada noturna por entre ruas desertas e boates promíscuas. A vida, ultimamente, demostrava-se cada vez mais salgada, se é que se pode atribuir à tamanho conceito complexo um mero adjetivo apropriado à culinária. O apartamento se transformara em uma harmônica bagunça, reflexo de seus transtornos sentimentais e impulsivos. Desconhecia boas noites de sonho e já não lhe eram contadas mais histórias de dormir como sua mãe costumava a fazer. Teve que se acostumar a dormir ao som do jovem casal, que moravam ao seu lado, brigando quase como em uma sinfonia do caos à margem do apocalipse. "Cada um tem sua razão de perder o controle", pensava Aline assim que as discussões e gritos ficavam insuportáveis. Então, as noites que se seguiam dessa forma eram noites que Aline buscava, por entre esquinas distantes do seu bairro caótico, algo que a distraisse. Quase sempre voltava acompanhada pela calmaria que só o primeiro raio-de-sol pode trazer. O noticíario da manhã exibia sempre reportagens com o mesmo teor jornalístico. O mundo havia se transformado em algo fútil, sem prazer, e os reporteres faziam questão de escancarar isso através de suas estúpidas entrevistas e documentários. Aline se sentia distante de tanto moralismo e falsidade produzidos pela mídia, mas mesmo assim só conseguia engolir o copo de capuccino ouvindo a engraçada voz que o âncora fazia ao anunciar a mulher do tempo. Estranha, mas aceitável.

A manhã se desenrolou como se a preguiça fosse seu pecado preferido. Os carros, enquadrados no contínuo frenesi que só as grandes cidades movimentadas podem proporcionar, iam seguindo por entre ruas e avenidas sempre lotadas de compromisso, desorganização e pressa. Não participar desse circo é tarefa daqueles que preferem assistí-lo de fora, longe dos palhaços de relógio, dos domadores de veículo e dos malabaristas de dinheiro. Assim sendo, Aline se dispôs a ver o show pela janela do seu pequeno apartamento, tendo tempo para pensar no seu trabalho fotográfico interminável com data marcada para exposição. Nada muito sério, apenas experimental no sentido de tentar traduzir a alma daqueles que ficaram eternizados através das lentes de sua câmera profissional. O difícil é que, nem seu próprio interior, Aline conseguiria entender algum dia. De certa maneira esse entendimento se perdeu há muito tempo desde do dia em que a mudança forçada da casa dos pais afetou definitivamente sua vida. Sem pais, sem casa e com uma vaga lembrança da infância estampada na velha foto, Aline foi obrigada a envelhecer dez anos para se acostumar com o fato de viver e permanecer sozinha. Passavam pelos seus pensamentos as cenas do rosto de sua mãe que, apesar da tragédia, mantia a doce calma que lhe sempre foi própria. Durante a tarde, seu destino seria certo.

Aline já havia parado, depois do incidente, tantas vezes frente àquela porta sem qualquer razão substancial, que o hábito lhe parecia uma forma de resgatar as coisas boas e, sobretudo, a realidade que se esfumaçara de dentro dela há algum tempo. A cor marrom da porta, detalhadamente marcada pela maçaneta prata, harmonizava-se com o verde escuro do jardim mal cuidado que ali esperava pela hora de finalmente apodrecer por completo. A casa antiga mantinha a impecável estrutura, a qual havia sido arquitetada há quase 43 anos. Naquele tempo, as árvores davam frutos, os vizinhos eram quase como parentes e a família era uma unidade. Nada mudou, exceto pelas árvores, que desapareceram; pelos vizinhos, que se mudaram; e pela família, que já não existia mais. Sem esperanças de encontrar alguém, manteve-se estática segurando o objeto prata, a fim de que a porta marrom pudesse indicar como uma bússula seu próximo passo. A noite caia calma, diferente do tumulto e turbilhão de sentimentos que se passavam em sua cabeça. Enfim, tomou coragem para forçar cudiadosamente o trinco velho que já não cedia há algum tempo. O primeiro cômodo que se observava diante dos cautelosos passos rumo ao corredor de entrada era a lustrosa sala de jantar. As imagens daquela época iam e vinham na cabeça de Aline a ponto de fazê-la acreditar que naquele momento estava ela ainda pequena sentada à mesa inexistente, enquanto sua mãe de súbito adentrava a sala carregando uma cesta de pães frescos. Logo em seguida, a doce voz maternal anunciava em harmonia a refeição ao último habitante da casa. E a pequena Aline continuava inquieta olhando os pães como se fosse devorá-los todos de uma só vez. Sentia uma fome descomunal. Seu pai, o último a se sentar à mesa, dava-lhe um demorado e profundo beijo na face. A buzina de um dos carros na rua fez Aline despertar da miragem que a envolveu por completo, como se participasse daquela cena. De fato, sentiu fome e seguiu o caminho até a antiga cozinha inabitada. O carpete que cobria o chão estava destruído pela ação do tempo e não havia nenhum móvel nem eletrodomésticos presentes. A ilusão de que pudesse encontrar algo para comer naquela cozinha transformou a fome em decepção. Optou por terminar o tour pela casa antes que a fome anunciasse sua presença novamente.

A escada, que levava aos outros aposentos da casa - tais como quartos e banheiros - continha alguns degraus frágeis e Aline foi se esgueirando até o segundo patamar. Não é preciso comentar que as lembranças novamente iam e vinham à mente da protagonista sem aviso prévio. O primeiro quarto escolhido incoscientemente para se explorado fora o seu. O taco de madeira que cobria o chão estava quase todo desgastado e algumas áreas ao redor já se encontravam encobertas. Não havia muito o que fazer em um cubículo vazio de alguns metros quadrado onde só restaram passado e cheiro de mofo. Mas algo chamou-lhe atenção. No cantinho direito do cômodo embaixo de um dos tacos levantados, quase que imperceptível, encontrava-se uma relíquia, um tesouro perdido há 15 anos desde que sua saída da casa havia sido imposta judicialmente depois da morte dos pais.
...
"Olá, se você ligou para esse número, sabe quem é. Deixe seu desabafo, suas angústias, sua receita de bolo ou seu nome, se for gatinha. Tudo isso depois do sinal que você bem conhece. PIIII"
- Finalmente encontrei, Gabriel! Encontrei a foto que prova que você já vestiu as roupas da minha mãe quando éramos pequenos! Eu sempre estive certa! Você precisa ver isso...

Entre risos e choro.

Informativo

Para aqueles que até hoje não entenderam o motivo e o sentido dos meus textos abaixo desse que vos escrevo agora, Bem-Vindos. Nem eu sei porque, cargas d'águas, começo a pensar nesses temas alucinógenos e os coloco aqui. E agora, depois de alguns meses de blog abandonado, estou mudando o estilo das postagens, mantendo os textos impessoais e de cunho fictício, e criando agora alguns com notas mentais e banalidades do dia-a-dia.

Primeira nota mental: terminar urgentemente de editar os outros textos. Joaquim está quase parando de falar comigo por causa do meu descaso.