domingo, 27 de março de 2011

É para sempre

- Mas que diabo de barulho é esse? - suas ceroulas rosnavam. Apesar das janelas fechadas, o silêncio do quarto era quebrado por uma constante singularidade musical. - Eeeei! Estou tentando ter um pouco de paz aqui - gritou rua afora. Deserta. Nenhum som por mais remoto que fosse anunciava o distúrbio que ele procurava - Não é possível! Ninguém pode mais dormir até tarde?

A rua continuava calada e as casas vizinhas aparentemente tranquilas. Definitivamente não estava vindo de fora. Mas como o barulho estaria vindo de dentro, se há algum tempo ele havia conseguido se libertar das amarras da mãe morando sozinho? "Melhor verificar o resto da casa antes que eu fique paranóico", pensou saindo do quarto. O borburinho aumentava gradualmente a medida que ele se aproximava da escada. "Bom, é lá embaixo. E agora?"

Sala: (x) vazia
Escritório caustrofóbico mal reformado: (x) vazio
Banheiro sem fins higiênicos úteis: (x) vazio
Cozinha e último aposento não visitado ainda: ( ) vazia (x) porta fechada

De fato, agora sim era possível perceber que o barulho destruidor da paz caseira advinha da cozinha. A curiosidade para saber o que ou quem produzia tal pertubação quase se igualava com o medo de encontrar um ladrão nos trajes em que tinha acordado. Preferiu agir como um verdadeiro macho destemido, que paga as contas e não precisa mais da mãe para aprovar suas namoradas e abrir a porta com cautela para pegar o tal gatuno em flagrante. A cena que viu desmontou sua pose de herói.

- Mãããããe! O que você está fazendo aqui essa hora??
- Bom dia, meu tutu. A porta estava destrancada, então entrei. Quando você vai aprender que tem que passar a chave nela, tutu?
- Mãe, não me chama assim. Já estou grande. Que barulho é esse?
- Eu vim fazer suco para você tomar agora de manhã. Aliás, já não está tarde demais para você tomar café?
- Maldito liquidificador.

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